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O mercado de trabalho para os profissionais da área de investigação voltou a crescer neste ano. Apesar de o Brasil ser um dos países mais carentes em detetives particulares - em São Paulo somente 1% dos 50 mil profissionais atuam no campo - houve um aumento na procura desses serviços, segundo o presidente da Associação dos Detetives Particulares do Brasil (Aprodepab), Evódio Eloísio de Souza, de 55 anos.
"Há quatro anos, a procura pelos serviços de espionagem sofreu uma queda, mas em fevereiro deste ano houve um aumento de aproximadamente 10%, revelou.
Embora o número de detetives ativos não tenha crescido significativamente nos últimos anos, a investigação - serviço que existe há 36 anos no País - é muito procurada até hoje, principalmente pelas mulheres. O diretor do Instituto, Marco Aurélio de Souza garante que a carreira já levou profissionais de outras áreas e trocarem de emprego. "Há tres anos policiais civis começaram a mudar de carreira ou adotarem a investigação como uma segunda alternativa de trabalho, principalmente por dar um bom retorno financeiro", garantiu.
Um detetive particular, que trabalha em média oito horas, chega a atingir um rendimento diário de R$ 300,00.
A infidelidade conjugal é uma das missões mais requisitadas, chegando a atingir 50% dos casos. A contra-espionagem também esta entre os serviços mais procurados.
Souza disse ainda que o Departamento de Investigação, ligado ao Instituto, recebe pelo menos 4 casos de contra-espionagem por dia. "No final de cada mês, atendemos mais de 40", afirmou.
O mercado de trabalho, que tem como público alvo pessoas entre 30 e 40 anos de idade, abriga em São Paulo aproximadamente 40 agências de detetives.
Curso tem duração de 60 dias
Aventura e Mistério são os elementos primordiais para quem deseja seguir a sua carreira de detetive particular. Para tornar-se um profissional em investigação e espionagem é preciso muita disciplina.
Marco Aurélio conta que o IUDEP, forma em média 1.500 alunos por ano, para ingressar nessa área, o interessado precisa pelo menos ser alfabetizado. "O candidato que tiver facilidade de assimilação poderá se transformar em um grande detetive", ressaltou Souza.
Durante o curso, que tem duração de 60 dias e pode ser feito por correspondência, o aluno terá aula de medicina legal, sigilo profissional, fotografia, eletrônica e ainda irá aprender a manusear equipamentos como micro-câmeras, filmadoras, binóculos e transmissores (apetrechos de escuta). O futuro detetive aprenderá ainda técnicas de investigação, como fazer campana e descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas.
Depois de terminar o curso, além de receber o diploma, o candidato também irá possuir uma carteira de identificação profissional. Os alunos mais aplicados serão indicados para agências de detetives e ao próprio Departamento de Investigação do Instituto.
Os interessados em saber mais sobre o curso deverão entrar em contato com Instituto através do telefone , Fax ou email.



Curso de detetive ensina atividade bem remunerada.
A profissão de detetive envolve mistério e faz lembrar personagens famosos, como Sherlock Holmes. Também lembra casos de infidelidade conjugal e espionagem, duas das principais atividades do profissional. Tornar-se um detetive particular exige, além de astúcia, muita disciplina que podem ser assimiladas até mesmo através de cursos por correspondência.
Formar esses profissionais é especialidade da IUDEP, que reúne hoje aproximadamente 58 mil associados de todo o país. Entidade coligada à Associação Profissional dos Detetives Particulares do Brasil (Aprodepab), o Instituto oferece cursos a distância, com a possibilidade de aulas ao vivo para os alunos da Grande São Paulo. Aos sábados são oferecidas orientações para quem deseja um reforço ao material didático.
Marco Aurélio de Souza, diretor do Instituto, explica que durante as aulas os instrutores fazem demonstrações dos principais apetrechos utilizados pelo detetive, como o binóculo, máquina fotográfica e microfone. A participação não é obrigatória, mesmo porque a aula é oferecida em São Paulo, o que dificulta a vida de quem mora em locais distantes da capital.
No ato da matrícula, o interessado recebe todo o material didático para estudar em casa. O diploma é conseguido mediante a realização de uma prova, que também pode ser enviada pelos Correios. Segundo Souza, o prazo médio para formação do profissional é de 60 dias, se ele estudar pelo menos uma hora por dia.
Durante o curso, o futuro detetive particular aprende técnicas de investigação, contra-espionagem, como fazer campanas, seguir pistas e descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas. Também são dadas orientações gerais sobre comportamento e ética profissionais.
Segundo o diretor do Instituto, as questões conjugais são as que mais motivam as pessoas a recorrerem a um detetive. "Há alguns anos atrás, os homens contratavam mais detetives. Hoje, são as mulheres que estão mais desconfiadas, inclusive com dúvidas quanto o comportamento dos amantes", garante Souza.
Ele lembra que os melhores formandos do curso são contratados pelo próprio Instituto, que também realiza investigações. A opção da maioria dos profissionais é abrir seu escritório, que pode proporcionar bons rendimentos: um detetive cobra, em média, R$ 200,00 por hora. A chave para um bom negócio é a propaganda. Outro aspecto ressaltado por Souza é a indicação. "Para um bom profissional nunca falta serviço", diz.
REGULAMENTADA
Para abrir um escritório os principais itens são uma sala e um telefone, além de registros na Prefeitura e na Secretaria de Segurança Pública. Apesar da formação ser realizada através de cursos livres, a profissão é devidamente regulamentada desde 1961.
O detetive particular ganhou no ano passado até um dia em sua homenagem, comemorado em 26 de julho. O projeto , de autoria do deputado Afanásio Jazadji, foi aprovado mediante justifica de que o profissional é um profissional importante, até mesmo para a própria Polícia.
Quem deseja maiores informações sobre a profissão e os cursos pode entrar em contato com o IUDEP através dos telefones/emails ou pessoalmente.



Pais que espionam os filhos.
Famílias contratam detetives particulares para descobrir se jovens usam drogas.
Qualquer família entra em desespero quando descobre que um de seus membros se envolveu com drogas. Não há receita fácil para lidar com essa situação dilaceradora. Pior ainda é decidir o que fazer quando não se sabe e apenas desconfia. Uma solução drástica está se tornando comum entre as famílias de classe média: contartar um detetive para tirar essa dúvida a limpo. Investigar jovens de classe média para saber se há envolvimento com drogas é hoje serviço mais solicitado às agências de detetives particulares, atrás apenas dos casos de infidelidade matrimonial. A maioria da clientela mora em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas também há demanda pelo serviço no Espírito Santo, Brasília, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul. A investigação é simples, na maioria das vezes. Os detetives seguem o jovem desde o momento em que sai de casa até a hora em que retorna. Em alguns casos, grampeiam os telefones da casa, vasculham os e-mails do investigado e usam disfarce para se aproximar de seus amigos.
A suspeita dos pais é confirmada em 90% dos casos. "Geralmente eles já sabem que o filho usa entorpecentes", diz Rafael Gomes, da agência Márcia e Rafael, do Rio. "Os clientes querem apenas provas concretas, como fotos e vídeos, para enconstar o filho na parede", diz ele. Os investigados em geral têm entre 13 e 20 anos, pertencem à classe média alta e compram drogas diretamente em favelas, botecos, lanchonetes da periferia e até dentro do próprio colégio em que estudam. Em um caso, uma agência instalou uma microcâmera no banheiro do cliente. A mãe tinha encontrado resíduos de pó na pia e no espelho e desconfiou que o filho consumia cocaína. Muitas vezes, o adolescente é flagrado entrando numa favela da periferia. "Ele fica olhando para os lados e andando rápido, com medo de que descubram que está fazendo algo de errado", conta Lucilene Victório, chefe do departamento de investigação do Instituto Universal dos Detetives Particulares, em São Paulo. Em Brasília, é mais freqüente que a droga seja comprada dentro da escola. "São alunos que adquirem grandes quantidades de traficantes e distribuem entre os colegas".
A investigação dura, em média, duas semanas e o preço é salgado: varia de 400 a 600 reais por dia. "Desvendamos o caso com rapidez porque nenhum viciado consegue passar mais que duas semanas sem usar drogas", diz Gomes, da Márcia e Rafael. Quando os pais decidem colocar um investigador atrás do filho é porque a situação familiar chegou ao limite. O jovem vai mal na escola, abandonou os amigos e a namorada, vive irritado, briga com os pais e tem insônia. Ainda assim, nem sempre o resultado é o melhor."Se o filho não usar drogas e descobrir que está sendo seguido, o relacionamento com os pais desabará de vez", afirma a educadora Tânia Zagury, autora de vários livros sobre adolescentes, entre eles Adolescente por Ele Mesmo, da Editora Record. "Mas, se não existir diálogo na família, o filho só vai admitir o problema diante de provas." Para o pesquisador paulista Içami Tiba, especialista em adolescentes, essa é a melhor forma de tentar salvar o jovem viciado em drogas."Nem todos os drogados têm cura", diz Tiba. "Portanto, quanto mais cedo se descobrir o vício, seja por qual método for, melhor."



Trabalhando na Surdina e disfarçados, os detetives adoram o perigo e se tornam a salvação dos desconfiados de plantão - Leda Rosa
Eles são os exterminadores da privacidade alheia. Durões e caras-de-pau, não desistem até conseguir seu objetivo. Os detetives particulares são uma categoria muito bem paga, que tem como maior prazer desvendar os segredo dos outros. Mesmo que para isso tenham de bancar os gays ou tomarem facadas no nariz. Mostram a verdade nua e crua a quem os contrata. Foi assim com a dona de casa M.F, que descobriu que o marido tinha, além da amante, uma filha. Ultimamente, um numero cada vez maior de pais vem contratando detetives que investiguem seus filhos. Objetivo: descobrir se os adolescentes estão envolvidos com drogas. Para os Sherlock Holmes modernos, o único inconveniente da profissão é que a desconfiança costuma tomar conta do cotidiano. Os detetives passam a suspeitar até da própria família.
" Não tem jeito, vi tanta coisa nesses anos de profissão... Desconfio da minha sombra", admite Angela Bekeredjian, com 33 anos de experiência e uma das detetives mais famosas da cidade. Filha de pai militar, Angela nasceu em Barcelona, na Espanha. "O regime de minha família era muito rígido na minha infância. Isso influenciou minha escolha pela profissão de detetive, que me dava mais liberdade, bons ganhos e contato freqüente com pessoas diferentes", explica ela, em frente a uma parede enfeitada com diplomas emoldurados. Eles comprovam que Angela se formou em Psicologia, fala seis idiomas e fez cursos de balística, grafologia técnica, técnicas antisequestro e escolta. Como se não bastasse, outros certificados atestam seu bom desempenho nos cursos de música clássica, dança flamenca e teatro. " O bom detetive não pode ser notado pela pessoa que está sendo seguida. Muitas vezes precisamos nos disfarçar de acordo com o local. Esses cursos voltado para o lado artístico ajudam a nos desinibir", explica ela, que perdeu a conta dos personagens que precisou interpretar. "
Já fiz de tudo. De gari a médium incorporando "Preto Velho", conta, soltando uma de suas gostosas gargalhadas. Uma igualzinha foi dada por Angela durante um flagrante de adultério. " Não conseguia parar de rir quando a minha cliente, uma moça muito bonita, que tinha sido miss, entrou no quarto de sua casa e comprovou sua desconfiança. Ela acendeu a luz e viu o marido transando com uma prostituta feinha que não chegava nem aos pés delas. A primeira coisa que ela berrou para o infiel foi 'Mas você não estava impotente, seu desgraçado?"', lembra a detetive que foi junto com a Polícia Militar, a cliente, o marido e a prostituta até a delegacia da região, lavrar o auto flagrante.
O adultério ainda é crime previsto no artigo 240 do Código Penal e constitui, em média, 70% dos casos investigados pelos detetives particulares. O casal de amantes costumas ser apresentado ao delegado exatamente como foi encontrado na hora do flagrante. É comum os amantes irem à delegacia cobertos somente com lençóis.
" Não sei bem porquê, mas o fato é que o membro dele demorou muito para perder a rigidez, o que só fez aumentar o ridículo da vestimenta com lençol e o ódio dela, que não se conforma. Ele afirma que era impotente, mas sempre que possível satisfazia sua tara, que era transar com prostitutas no quarto do casal. Pouco tempo depois de registrar o boletim de ocorrência com o flagrante, eles se separaram", recorda a detetive. " A maioria das pessoas que vão procurar um detetive por desconfiar de traição já está com o casamento acabado. São pessoas que tentaram de tudo, do macumbeiro ao tarô, e nada funcionou. Somos a última opção", diz Angela, coçando a cicatriz no nariz, resultado de uma facada que levou de um marido infiel. " Quando ele descobriu que ela já sabia de tudo e que eu era a responsável por isso, veio para cima de mim, completamente louco. Se eu não fosse esperta, ele teria me passado a faca no pescoço de um lado a outro", diz, tranqüila, antes de ser interrompida pelo telefonema de um cliente. Enquanto fala no aparelho, Angela tira de um envelope várias fotos onde se vê uma mulher descendo de um carro e entrando em outro, onde troca beijos ardentes com um homem. Profissional , Angela fez o relato revelador. " Olha nós conseguimos estamos com as fotos da sua esposa aqui. Mostra bem direitinho. Calma. É eu sei como é duro. O senhor passa aqui às quatro da tarde? Então, ta, conversamos com mais calma", diz ela, séria, antes de desligar e passar alguns segundos quieta.
Angela adquiriu na prática boa parte da seriedade com a qual encara a dor da traição sentida pelos clientes. " O primeiro flagrante que dei na vida foi o meu mesmo. Peguei meu marido na cama com uma dona que se dizia minha amiga. Foi quando senti que tinha jeito para detetive. Depois, com os anos, descobri muitas outras traições dele", lembra, antes de sorrir para o ex-marido, Zacarias, que hoje a ajuda na administração da agência de detetives, que tem 12 agentes. Nós nos separamos, mas viramos amigos", diz, olhando para Zacarias, que sorri, envergonhado.
Perdão - A separação não é o fim para boa parte dos casamentos investigados por Angela. "Muitos se reconciliam, principalmente quando a mulher é a traída", diz. Não é o que acontece com os clientes de Elias Almeida, o Dudu, 33anos de idade e 15 de profissão. "A maioria opta pelo divorcio. Mesmo quando o casal tenta se reconciliar, a relação não dura mais que alguns meses. Para o homem é muito difícil perdoar, e a mulher, quando perdoa, acaba se vingando na mesma moeda", diz ele, que mantém em seu escritório no largo da Misericórdia, no centro, um sofisticado bar, repleto de diferentes marcas de uísques importados. As garrafas são mantidas no escritório para consolar os que se descobrem traídos.
"Quando comprovam a traição por meio dos relatórios, com fotos ou gravações telefônicas, os homens choram como bebês. As mulheres ficam histéricas, falando palavrões e gritando. Ambos precisam de uma boa bebida para se acalmar", conta, com um sorriso tranqüilo.
O bar dos traídos foi especialmente importante para acalmar um cliente que Elias jamais esqueceu. " O caso dele me marcou muito, porque era um homem muito carinhoso com a mulher e boa-pinta. Casados a dois anos, ele só saia de perto dela para ir jogar bola às sextas-feiras. Mas, para compensar a ausência, mandava flores em sua residência enquanto estava fora. Ele me procurou e nem chegou a dizer que estava desconfiado de alguma coisa. Disse que gostaria de conhecer um pouco mais a intimidade da mulher. Acabei descobrindo em conversas telefônicas que a mulher o traia justamente com o dono da floricultura durante os jogos de futebol", lembra.
"Sexualmente ela tinha um relacionamento normal com meu cliente, mas com o amante era uma coisa quase animalesca, cheia de fetiches e objetos de sadomasoquismo".
Quando apresentei o relatório ao marido, ele chegou a comentar, entre lagrimas e goles de uísque, que muitas vezes chegara mais cedo do jogo, mas, ao ver a perua da floricultura parada em frente ao prédio onde morava, ficava na padaria, dando um tempo para a mulher receber as flores e, sensibilizada, recebê-lo de forma ainda mais carinhosa", acrescenta Elias, com um sorriso cínico.
O mesmo cinismo ele exercitou em outra oportunidade, quando um noivo o contratou para vigiar sua noiva, uma semana antes do casamento. " Ele havia me contratado dois anos antes, quando eram namorados, e eu lhe revelei que ela dava uns amassos com um colega de faculdade. Voltou a me ligar às vésperas do casamento. Ele instalou na casa da moça os equipamentos de escuta telefônica que lhe vendi. Durante o período do nosso contrato, que ia de segunda a sexta, não houve nada de anormal. Mas no início da madrugada de sábado a noiva do meu cliente ligou para marcar um encontro com o amante em um motel da Marginal Tietê. O cara era o mesmo da época da faculdade. Poucas horas antes de ir para a igreja, ela ainda ligou para uma amiga e contou que nunca iria deixar de ver o amante, porque ele transava muito bem. Fiquei numa dúvida terrível, porque meu cliente não havia me contratado para trabalhar naquele dia. Só ouvi a conversa porque demorei a desativar a escuta. Pedi a opinião de amigos e até da família. Terminei assistindo ao casamento com a minha mulher, com a fita da gravação no bolso."
Namorados - Mas nem todo o cinismo do qual é capaz livrou Elias do desconforto que sentiu ao ter de bancar o gay, em um de seus primeiros trabalhos. "A mulher contratou a agencia na qual eu trabalhava para seguir seu marido, que não tinha mais o mesmo interesse sexual por ela. Fiz a perseguição com outro detetive. Seguimos o marido até o Centro. Num bar, ele se encontrou com os amigos e ficou junto de um rapaz mulato. Logo começaram a se beijar. Fizemos as fotos e vimos quando entraram em uma boate gay. Tínhamos de entrar e acabamos passando pelo porteiro de mãos dadas, como dois namorados.
Foi horrível. Pior ainda foi ter que ficar bem perto desse meu colega para ouvir o que o marido da minha cliente estava conversando com o amante, em um paredão onde os homossexuais ficavam se pegando. No fim, chamamos a cliente e ela desmaiou ao ver o marido, já na rua, no colo do mulatinho".
"Outro caso que tem crescido muito nos últimos anos é de pais que me contratam para seguir o filho, preocupado com o possível envolvimento com drogas. Atualmente esse tipo de trabalho ocupa 30% dos casos que investigo", revela Elias, que em 1997 foi contratado por um empresário que já era seu cliente. Ele começou a desconfiar do filho, que começou a gastar muito dinheiro. "O filho tinha 19 anos e fazia cursinho à noite. Eu o segui durante cinco dias e ele só foi às aulas no primeiro. Nos outros, passava na porta do cursinho, em Santa Cecília, pegava duas moças e dois rapazes e ia para Guarulhos, num local onde os adolescentes se reúnem, próximo `Faculdade da Vila Rosália. Ali eles compravam uns papelotes de cocaína e usavam. Filmei tudo e mostrei para o meu cliente que internou o filho", lembra Elias.
Elias é casado há cinco anos e pai de um menino.a desconfiança profissional acabou alcançando a mulher, ex-manequim. Elias prefere não revelar os nomes do filho e da mulher. "Quando ela liga dizendo que vai ao shopping passear fico de orelha em pé. Quase sempre acabo largando o trabalho para acompanhá-la " admite. "Certa vez segui durante 30 dias, uma mulher casada deslumbrante. O marido estava desconfiado porque ela não tinha mais interesse em transar com ele. Ela saía todo dia, um monte de homens mexiam com ela na rua, mas não dava bola para ninguém. Só ficava de loja em loja. Depois de um tempo chamei o marido para conversar. Perguntei como era o relacionamento dele com a mulher e ele disse que era normal. Aconselhei que ele fizesse com ela tudo o que sabia e praticava com outras mulheres. voltou seis meses depois, rindo de orelha a orelha, dizendo que o casamento estava uma maravilha".
Igreja - Outro que investigou vários casados e casadas fiéis foi Marco Aurélio de Souza, de 32 anos e detetive há 17. "Uma cliente me contratou há alguns anos para seguir seu marido, que havia começado a sair sozinho todas as noites e a usar ternos sofisticados. Na primeira noite, vi quando ele entrou em uma igreja evangélica famosa. Na segunda noite ele fez a mesma coisa e entrei junto, porque o encontro com a amante podia ser lá dentro", recorda Marco. Armado com uma filmadora, o detetive deu azar ao ser confundido com um repórter da TV Globo, emissora que na época travava uma briga acirrada com a congregação evangélica. Cercado pelos fiéis, tomou muitos tapas e empurrões. " E todas as noites ele voltava à igreja. Uma semana depois disse para minha cliente que ele não tinha outra mulher mas sim uma nova religião. Em pouco tempo ele contou tudo a ela e a convidou para se batizar também. Hoje toda a família é dessa igreja", conta.
Nem por isso Marco é menos desconfiado de sua mulher, com quem é casado há 10 anos e tem dois filhos. "Comecei a trabalhar ainda adolescente com meu pai, o Evódio Eloízio de Souza. As muitas coisas que vi entre casais acabaram se refletindo no meu dia-a-dia. Ligo toda hora para saber o que minha mulher está fazendo, claro que disfarçando para não dar muito na vista. Ela sabe como sou e encara numa boa", conta Marco, que coordena os cursos de Detetive na Central Única dos Detetives do Brasil, na rua 24 de maio, 188, Centro. Os altos ganhos da profissão - para um iniciante em torno de R$ 2 mil e para os experientes a partir de R$ 8 mil" - fazem aumentar a cada dia o número de alunos, que acompanham as aulas pessoalmente ou por correspondência. " Mas, para ser um bom detetive, o fundamental mesmo é gostar da profissão, ter faro, cara-de-pau, muita prática e um bom arsenal de equipamentos", explica Angela. Uma das lições mais importantes que Marco procura transmitir aos futuros detetives é o cumprimento rápido e eficaz do trabalho, doa a quem doer. " Não se pode ter pena de entregar os outros, é preciso ser frio, durão. Somos pagos para isso".
Entre unhadas e beijos
A ginecologista da dona de casa M.F.S., de 52 anos, foi a primeira alertá-la sobre possíveis aventuras extra-conjugais do marido, com quem estava casada havia 27 anos e tinha três filhos, de 15, 14 e 11 anos. "Mas ela falava rindo e nem ligava, achava que era brincadeira e também porque eu confiava cegamente nele", recorda. A confiança foi terminada quando M. passou a ver que o marido chegava em casa com marcas de unhadas e beijos mais violentos. " Resolvi dormir em um quarto separado dele, porque fiquei com medo de doença."
Não demorou muito para que o marido, um militar culto e de boa aparência financeira, a tirasse de São Paulo para uma casa simples, em uma cidade próxima a Botucatu, a três horas de viagem da Capital. " Ele dava tudo em casa e de uma hora para outra o dinheiro começou a escassear. Passei muita privação e ele dizia que eu precisava economizar para a educação das crianças." Na verdade, o dinheiro ia para a ex-secretária de seu marido, 13 anos mais jovem que M. e para quem o militar pagava tudo, inclusive a faculdade de Informática. " O primeiro detetive que contratei foi um safado que me levou R$ 2 mil e desapareceu. Como precisava descobrir o que acontecia, contatei a Angela em outubro de 1997. ele foi ótima. Cobrou quase R$ 3 mil, mas valeu a pena, porque foi amiga e de total confiança. Desvendou tudo dois dias depois. Meu marido não só tinha uma amante como morava com ela em um subúrbio miserável em Sapopemba e era pai de uma menina", lembra M., que se separou judicialmente e entrou em depressão. " Não queria saber de mais nada. Perdi 15 quilos em 10 dias. Mas agora resolvi parar de chorar e me cuidar. A vida continua e me sinto vingada", diz ela, com um meio sorriso. " Durante as investigações, os agentes de Angela, sem querer fotografaram a amante do meu ex-marido aos beijos e abraços com um rapaz na frente da casa de Sapopemba. Mostrei as fotos a ele e disse que ele era pior que um corno, porque era um corno público."
O empresário César Farias, de 34 anos, é um dos que defendem com entusiasmo a contratação de um bom, detetive quando há desconfiança no negócios. " O empresário não tem como fugir da crise que sempre ronda o País e da briga com os concorrentes. Perder tempo e ficar se preocupando para saber se está sendo roubado pelos empregados ou sócios torna quase impossível o bom desempenho", diz ele, dono de dois restaurantes, duas pizzarias e um mercado de atacado na cidade.
Em 1997, César contratou os serviços de Marco Aurélio, que mantém uma agência de detetives formados em sua escola. " Precisava fazer uma viagem de um mês para o Pará. Ia tentar acertar a compra de uma fábrica de queijos e não podia acompanhar de perto o desempenho de meus gerentes, aos quais confiei as lojas. O Marco e o pessoal dele instalaram equipamentos e quando voltei pude comprovar que meus funcionários agiam dentro da maior honestidade", diz. César resolveu contratar Marco porque no ano anterior havia sido lesado por gerentes durante uma viagem de negócios de três meses.
As investigações empresariais costumam ser mais caras do que os casos de família. " Mas vale a pena. Calculo que perdi, na primeira viagem, algo em torno de R$ 20 mil. Paguei menos de 10% desse total ao Marco para ter paz", diz, sorrindo. " O preço costuma ser mais alto porque temos de colocar especialistas sobre o assunto investigado para trabalhar dentro da empresas ou com os dados que conseguimos obter", explica Angela. " Os casos mais comuns são sobre desvio e roubos de cargas, venda e roubo de informações e espionagem empresarial", detalha ela, antes de frisar que não aceita caso de espionagem. " Só fazemos contra-espionagem, que é a proteção da empresa contra os que querem saber seus trunfos comerciais".